Desde que foram concebidos teoricamente, há quase cem anos, buracos negros fascinam os físicos por seu poder. Com sua enorme força gravitacional, são capazes de engolir tudo em volta deles -- até mesmo a luz-- e podem crescer indefinidamente à medida que vão sendo "alimentados". Quando surgiu a notícia de que um experimento perto de Genebra (Suíça) --o acelerador de partículas LHC-- poderia criar um "miniburaco negro", portanto, foi natural algumas pessoas se perguntarem: "Ele vai crescer e engolir a Terra?". Físicos respeitáveis que estudam buracos negros, porém, são unânimes em responder um contundente "não".
"A melhor prova de que isso não acontecerá é que, se buracos negros forem criados no LHC, então na verdade eles já estão sendo produzidos o tempo todo na atmosfera por colisões de raios cósmicos", disse o físico Bernard Carr, da Universidade de Londres, um dos pioneiros no estudo de buracos negros de pequena escala. "Se eles fossem mesmo perigosos, já teriam engolido a Terra muito tempo tempo atrás."
Segundo o cientista, o que acontecerá se um minúsculo buraco negro surgir no acelerador de partículas, que deve começar a operar em junho, é sua evaporação quase imediata. Carr foi aluno de doutorado do astrofísico Stephen Hawking, da Universidade de Cambridge, que postulou esse fenômeno teoricamente. Até 1974, físicos acreditavam que um buraco negro jamais poderia diminuir de tamanho, mas Hawking mostrou que pode. Ele é um dos que mais torce, aliás, para que um miniburaco negro se forme no LHC. "Se isso acontecer, então, por um processo que eu descobri, o buraco negro irradiaria partículas e desapareceria. Se observarmos isso, um novo campo se abriria na física, e eu ganharia um prêmio Nobel", disse Hawking ao jornal britânico "The Independent" no começo da semana. "Mas eu não estou apostando nisso."
A física de buracos negros ainda é mal compreendida. Teóricos se desdobram para tentar entendê-los pois isso pode ajudar no grande desafio atual da física: a unificação da teoria da relatividade geral de Einstein (que explica a gravidade) com a física quântica (que explica as partículas elementares). Produzi-los no LHC seria uma maneira de estudá-los diretamente pela primeira vez, algo inestimável para os físicos.
"Mas, para que esses buracos negros se formem numa colisão de partículas, existem muitos pré-requisitos", explica o teórico George Matsas, do Instituto de Física Teórica da Unesp, autor de um livro recém-lançado sobre sua especialidade ("Buracos Negros, Rompendo os Limites da Ficção", editora Vieira e Lent). "Para que um deles surja no LHC é preciso que existam dimensões de espaço extra e que que elas sejam 'microscópicas', de tamanho adequado. Não é nada trivial", afirma.
Uma abordagem conhecida entre os físicos, chamada teoria das cordas, de fato prevê que o espaço tenha mais do que as três dimensões que conhecemos, mas apesar de ela ter consistência matemática, nenhuma evidência experimental foi encontrada em seu favor até o momento. Além disso, a teoria das cordas, na verdade, tem várias diferentes versões, e só uma delas prevê que o LHC possa produzir buracos negros.
"De qualquer forma, é possível, em principio", diz Carr. "Não sabemos se eles surgirão, mas é justamente por isso que é preciso tentar."
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