Carreira
Ainda jovem, em 1927, ela desafiou padrões da época ao fugir de casa atrás de uma companhia de teatro. Ela começou a carreira cantando, mas depois perdeu a voz. Ela trocou seu nome de batismo, Dolores Costa Bastos, para tornar-se Dercy Gonçalves, uma atriz da época do teatro rebolado e das chanchadas. Dercy também passou pela televisão e foi uma das primeiras contratadas da Rede Globo, onde estrelou os dois primeiros programas de sucesso da emissora no horário nobre. Em 1989, fez o papel da mãe da rainha na novela “Que Rei Sou Eu?”. Em 1991, aos 84 anos, sofreu um acidente de carro e quebrou a bacia. Ainda se recuperando, foi para a Marquês de Sapucaí com os seios à mostra, homenageada no enredo da Unidos da Viradouro (em 2004, voltou a ser destaque, dessa vez no carro da Salgueiro, como mostra o vídeo acima). Também em 1991, passou por uma cirurgia por conta de uma úlcera e de um tumor. Em 1992, participou da novela "Deus nos acuda", fazendo o papel de anjo da guarda nada convencional da personagem de Cláudia Raia. A atriz, que ameaçou posar nua aos 90 anos, não gostava de água, nem a do mar. Ela mandou construir seu túmulo -- com formato de pirâmide, já concluído -- em Santa Maria Madalena, sua cidade natal. Lá também fica o museu Dercy Gonçalves, com diversas peças da atriz, como chapéus, bolsas, perucas, sapatilhas, bijuterias, troféus, cartazes, programas, entrevistas, fitas de vídeo, textos, jornais, revistas e fotos.
'Ninguém é mais feliz'
Em entrevista em abril do ano passado, ela disse que ninguém era mais feliz do que ela. Sem um pingo de nostalgia, disse que o passado não interessava. "O ontem acabou. Não tenho mágoa de nada e nem saudade de nada. Vivo o hoje. Tenho alegria de viver, adoro a vida". Vaidosa, a comediante disse que já havia feito mais de dez plásticas. "Não quero ficar feia. Também já fui criança ou você pensa que fui velha a vida inteira?", brincou. Depois de se curar de um câncer e sobreviver a uma tuberculose, ela se achava uma vencedora. "Tudo que passou, acabou. Eu sobrevivi." Dercy fugiu de casa aos 14 anos e dizia não se arrepender. Argumentava que aprendeu tudo o que sabe da melhor forma possível: vivendo. "Meti a cara, casei. Vivi 20 anos casada, com dignidade. Nada de ruim me aconteceu. Não me envergonho de nada." Mesmo depois de ter viajado por vários países, Dercy disse que não tinha lugar mais bonito que o Brasil. "Conheço mais da metade do mundo. Não tem país de mais calma e dignidade que o Brasil. Isso aqui é lindo". Ela não se dizia religiosa, mas acreditava na natureza. "Não acredito em santo nenhum. Minha religião é a natureza. Deus é um apelido. Ele pra mim não existe. O que existe é a natureza. Deus é fantasma, mas a natureza é a verdade."
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