O tenente Vinícius Ghidetti de Moraes Andrade, acusado de comandar o grupo de militares que entregou três jovens do Morro da Providência a traficantes da Mineira, disse que estava sofrendo pressão e, por isso, resolveu dar um susto nos rapazes.Durante mais de duas horas de depoimento, ele não demonstrou nenhuma emoção na voz, exceto ao falar que tem um filho de dois meses – quando interrompeu a fala e chorou copiosamente. Ao ouvir o juiz da 7ª Vara Federal Criminal, Marcello Ferreira de Souza Granado, ler a denúncia do Ministério Público Federal (MPF) sobre o caso, o tenente fez poucas ressalvas. O militar contou que pretendia usar a tinta de uma caneta vermelha para marcar as iniciais de uma facção criminosa rival na testa dos três rapazes antes de levá-los ao Morro da Mineira. Afirmou, no entanto, que seu intuito não era entregá-los a traficantes para serem mortos, mas "apenas amendrontá-los" pelo desacato que eles teriam cometido quando foram abordados no Morro da Providência. "A vida é o bem mais precioso. Jamais iria trocar a vida de três rapazes pela minha moral", disse, ao ser interpelado por um dos procuradores do MPF. O tenente contou que não conhecia o Morro da Mineira e que foi conduzido ao local por um dos integrantes do grupo que morava nas proximidades. O militar admitiu que descumpriu a ordem de seu superior, o capitão Ferrari, que dera ordem para que os jovens fossem liberados na saída do quartel, onde estavam os familiares das vítimas.
'Eperava que eles não fossem morrer'
Ao ser inquirido pelo juiz, retrucou: "Sei que traficantes podem matar. Não poderia acontecer nenhuma coisa boa. Mas esperava que eles não fossem morrer. Falei que era só para dar um susto", lembrou, no momento em que teria se dirigido a seus subordinados mandando que fizessem as três vítimas descerem do caminhão. O tenente disse ainda que não sabia que os homens que correram no momento em que o caminhão entrou na favela seriam traficantes. "Quando chegamos na Mineira, foi um susto para todo mundo", afirmou. Segundo ele, foi o sargento Leandro Maia Bueno que desceu do veículo para acenar para os traficantes e evitar um confronto. Os criminosos então teriam se aproximado, mas o tenente disse que viu apenas um com uma pistola na mão. Ele afirmou que não se recordava de ter dito aos criminosos que "trouxe um presentinho para vocês" e apertado a mão de um deles. Mas confirmou que, ao se despedir, disse "Valeu". "É um costume meu de falar assim". Vinicius contou ainda que viu o início dos espancamentos dos três jovens por pelo menos seis traficantes.
Depoimentos
Nesta quinta-feira, além do tenente, serão interrogados Leandro Maia Bueno, Jose Ricardo Rodrigues de Araujo, Bruno Eduardo de Fatima, Renato de Oliveira Alves e Julio Almeida Ré. No dia 4, Rafael Cunha da Costa Sa, Sidney de Oliveira Barros, Fabiano Eloi dos Santos, Samuel de Souza Oliveira e Eduardo Pereira de Oliveira.No fim do processo, se os réus não forem absolvidos pela Justiça, serão julgados pelo Tribunal Federal do Júri Popular.O MPF imputou a cada militar os crimes de homicídio triplamente qualificados, porque foram cometidos cruelmente, sem possibilidade de defesa pelas vítimas e por motivo torpe. A pena para cada réu varia de 12 a 30 anos. A denúncia partiu de investigações da Polícia Civil, em inquérito enviado na semana anterior pela Justiça Estadual à Justiça Federal. Além de ratificarem o pedido de prisão preventiva dos 11 denunciados, os procuradores pediram à 7a Vara que requisitasse ao Ministério Público Militar uma cópia do Inquérito Militar, que também apura os crimes militares cometidos.
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