Caso quisesse cometer um crime, a engenheira e psicóloga Tânia Maria Manso Corrêa Machado, de 64 anos, tornaria a vida dos peritos criminais um pouco mais difícil. Eles seriam incapazes de usar o método mais universal de investigação, a comparação das impressões digitais deixadas na cena do crime com o fichário dos cidadãos. Tânia não quer cometer crime nenhum. Ela é uma mulher normal. Mora em Belo Horizonte, é descasada e tem dois filhos. Apesar da situação comum, ela é um caso raro: suas digitais estão desaparecendo. O único dedo que conserva umas poucas linhas visíveis é seu polegar direito. Mesmo nesse dedo, as linhas são insuficientes para que um aparelho de leitura de digitais diga que ela é ela mesma.
“Minha pele sempre foi tão fina que minha mãe dizia que eu tenho mãos de preguiçosa”, afirma Tânia. A pele, fina como seda, facilita o aparecimento do que ela chama de rugas. Na verdade, são “cristas datiloscópicas”. As cristas, assim como as calosidades nas pontas dos dedos, dificultam a identificação das pessoas por suas digitais. Serventes de pedreiro e agricultores que pegam na enxada estão sujeitos a essas calosidades – os “estigmas profissionais”.
Tânia não havia notado que as linhas de seus dedos estavam diminuindo de comprimento e largura. Até surgirem os problemas com os sistemas automáticos de identificação, três anos atrás. Foi quando seu plano de saúde, em uma medida para prevenir fraudes, adotou a tecnologia da leitura de digitais. Tânia, assim como outros clientes da empresa, precisou registrar as impressões de todos os dedos para poder ser identificada em futuras consultas, exames e internações. Algum tempo depois, durante uma consulta médica, o leitor de digitais não a reconheceu. “Passei um por um os meus dedos, e nada”, diz Tânia, que repetiu a operação várias vezes. Como isso não deu resultado, teve de deixar um cheque caução e ir à sede da empresa para resolver o problema. O sumiço das linhas tornou-a irreconhecível ao aparelho. Foi o primeiro de uma série de incômodos.
“Na minha idade, preciso ir ao médico com freqüência, pois sempre aparece um problema aqui e outro ali. Essa situação se repetiu umas 20 vezes em outras consultas”, afirma Tânia. “Ninguém queria me dar um atestado nem assumir a responsabilidade de dizer que o problema não tinha solução.” Para ela, a empresa não agiu de má-fé. Apenas não sabia como lidar com seu caso. Só em novembro do ano passado é que Tânia se deu conta de que o problema não estava no leitor das digitais, e sim nela mesma. “Fui ao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, o Crea-MG, para renovar minha carteira”, diz. Depois de tentar várias vezes conseguir uma boa impressão, a atendente fez o que foi possível e então, ao comparar a impressão na carteira antiga com a nova, Tânia percebeu que as linhas das impressões diminuíram de tamanho e largura no polegar direito e praticamente haviam sumido dos outros dedos.
Ela quis saber o motivo. Num primeiro instante, chegou a atribuir o sumiço das impressões a uma dermatite de fundo emocional, provocada por sua rotina profissional. Tânia trabalha como psicóloga da Prefeitura de Vespasiano, cidade vizinha à capital mineira. “A mim são enviados todos os casos que ninguém quer tratar”, afirma. “A filha estuprada pelo próprio pai e outros casos tão graves como esse.” Depois, começou a avaliar outras possíveis causas. Tânia desenha, pinta louças, tecidos e vidros, além de cerâmicas. Para isso, mexe com ácidos, tintas e outros produtos químicos. “A tinta, os ácidos, os detergentes e solventes provocam asperezas na pele. Para removê-las, eu as lixava.” Aparentemente, os produtos químicos, mais a lixa, ressecaram e descascaram a pele, levando as digitais.
“Minha pele sempre foi tão fina que minha mãe dizia que eu tenho mãos de preguiçosa”, afirma Tânia. A pele, fina como seda, facilita o aparecimento do que ela chama de rugas. Na verdade, são “cristas datiloscópicas”. As cristas, assim como as calosidades nas pontas dos dedos, dificultam a identificação das pessoas por suas digitais. Serventes de pedreiro e agricultores que pegam na enxada estão sujeitos a essas calosidades – os “estigmas profissionais”.
Tânia não havia notado que as linhas de seus dedos estavam diminuindo de comprimento e largura. Até surgirem os problemas com os sistemas automáticos de identificação, três anos atrás. Foi quando seu plano de saúde, em uma medida para prevenir fraudes, adotou a tecnologia da leitura de digitais. Tânia, assim como outros clientes da empresa, precisou registrar as impressões de todos os dedos para poder ser identificada em futuras consultas, exames e internações. Algum tempo depois, durante uma consulta médica, o leitor de digitais não a reconheceu. “Passei um por um os meus dedos, e nada”, diz Tânia, que repetiu a operação várias vezes. Como isso não deu resultado, teve de deixar um cheque caução e ir à sede da empresa para resolver o problema. O sumiço das linhas tornou-a irreconhecível ao aparelho. Foi o primeiro de uma série de incômodos.
“Na minha idade, preciso ir ao médico com freqüência, pois sempre aparece um problema aqui e outro ali. Essa situação se repetiu umas 20 vezes em outras consultas”, afirma Tânia. “Ninguém queria me dar um atestado nem assumir a responsabilidade de dizer que o problema não tinha solução.” Para ela, a empresa não agiu de má-fé. Apenas não sabia como lidar com seu caso. Só em novembro do ano passado é que Tânia se deu conta de que o problema não estava no leitor das digitais, e sim nela mesma. “Fui ao Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, o Crea-MG, para renovar minha carteira”, diz. Depois de tentar várias vezes conseguir uma boa impressão, a atendente fez o que foi possível e então, ao comparar a impressão na carteira antiga com a nova, Tânia percebeu que as linhas das impressões diminuíram de tamanho e largura no polegar direito e praticamente haviam sumido dos outros dedos.
Ela quis saber o motivo. Num primeiro instante, chegou a atribuir o sumiço das impressões a uma dermatite de fundo emocional, provocada por sua rotina profissional. Tânia trabalha como psicóloga da Prefeitura de Vespasiano, cidade vizinha à capital mineira. “A mim são enviados todos os casos que ninguém quer tratar”, afirma. “A filha estuprada pelo próprio pai e outros casos tão graves como esse.” Depois, começou a avaliar outras possíveis causas. Tânia desenha, pinta louças, tecidos e vidros, além de cerâmicas. Para isso, mexe com ácidos, tintas e outros produtos químicos. “A tinta, os ácidos, os detergentes e solventes provocam asperezas na pele. Para removê-las, eu as lixava.” Aparentemente, os produtos químicos, mais a lixa, ressecaram e descascaram a pele, levando as digitais.
Seguindo o conselho de uma dermatologista, Tânia passa um creme nas mãos três vezes ao dia. Antes de dormir, besunta os dedos com vaselina. Até agora o problema não foi resolvido, pois as digitais não voltaram. A causa, portanto, pode não ser a prática de artesanato. “As impressões digitais só não voltam quando a pessoa sofre queimaduras muito profundas”, diz Valéria Achilles Medeiros, perita do Instituto de Identificação de Minas Gerais. O Instituto guarda as fichas datiloscópicas de mais de 17 milhões de pessoas. Segundo Valéria, há mais casos como o de Tânia, “mas eles não são tão comuns”. Estima-se que 3 mil pessoas no mundo apresentem a síndrome de Nagali, que as deixa sem digitais – mas a síndrome é genética, e as pessoas já nascem sem as marcas nos dedos.
Para identificar uma pessoa pelas digitais, os peritos estabelecem pontos identificadores. Um perito necessita de 12 a 15 desses pontos para uma identificação positiva. Alguns conseguem identificar usando apenas seis. Do jeito que está, Tânia é pouco identificável mesmo ao olho treinado de um perito. Há solução. “Bastaria que ela comparecesse ao Instituto para fazer uma nova ficha, a ser anexada à atual com anotações pertinentes ao caso”, diz Valéria. As cristas passarão a ser consideradas como mais um sinal característico dela. Com a nova ficha, a diminuição do tamanho e da largura da impressão também não seria problema.
A maior dificuldade para Tânia e outras pessoas como ela é que a identificação por meio das digitais deixou de ser monopólio do Estado. Criado nos Estados Unidos, o Automatic Fingers Identification System (Afis), o mais usado no mundo, não identificaria Tânia. Quem afirma é Inácio Loyola Pereira, que está desenvolvendo um sistema de identificação automático por meio de impressões digitais. “O meu sistema, que precisa de apenas três pontos característicos e tem grande velocidade e capacidade de processar dados como a distância entre as linhas, conseguiria identificar automaticamente Tânia e outras pessoas na mesma situação”, afirma Pereira. Ele está negociando sua tecnologia com um grupo investidor. Enquanto os sistemas mais eficientes de leitura de digitais não chegam ao mercado, a angústia de Tânia aumenta. Ela sabe que, assim como seu plano de saúde, outras empresas tendem a adotar a identificação por meio de digitais. E Tânia corre o risco de ficar irreconhecível.
Para identificar uma pessoa pelas digitais, os peritos estabelecem pontos identificadores. Um perito necessita de 12 a 15 desses pontos para uma identificação positiva. Alguns conseguem identificar usando apenas seis. Do jeito que está, Tânia é pouco identificável mesmo ao olho treinado de um perito. Há solução. “Bastaria que ela comparecesse ao Instituto para fazer uma nova ficha, a ser anexada à atual com anotações pertinentes ao caso”, diz Valéria. As cristas passarão a ser consideradas como mais um sinal característico dela. Com a nova ficha, a diminuição do tamanho e da largura da impressão também não seria problema.
A maior dificuldade para Tânia e outras pessoas como ela é que a identificação por meio das digitais deixou de ser monopólio do Estado. Criado nos Estados Unidos, o Automatic Fingers Identification System (Afis), o mais usado no mundo, não identificaria Tânia. Quem afirma é Inácio Loyola Pereira, que está desenvolvendo um sistema de identificação automático por meio de impressões digitais. “O meu sistema, que precisa de apenas três pontos característicos e tem grande velocidade e capacidade de processar dados como a distância entre as linhas, conseguiria identificar automaticamente Tânia e outras pessoas na mesma situação”, afirma Pereira. Ele está negociando sua tecnologia com um grupo investidor. Enquanto os sistemas mais eficientes de leitura de digitais não chegam ao mercado, a angústia de Tânia aumenta. Ela sabe que, assim como seu plano de saúde, outras empresas tendem a adotar a identificação por meio de digitais. E Tânia corre o risco de ficar irreconhecível.
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