A família de Maria de Jesus Araújo, que morreu aos 51 anos após uma cirurgia para receber um rim que seria destinado a outra paciente, afirma que ainda não foi procurada por médicos ou autoridades de Saúde do estado. O marido e os filhos contam que não receberam nenhuma informação oficial sobre o caso e querem que seja feita justiça."Eu não sei se houve incompatibilidade, o que houve, mas eu só sei que alguma coisa errada aconteceu. E se existe algum culpado, eu quero que ele pague", desabafou Pedro Cardoso de Araújo Filho, marido de Maria de Jesus Araújo.Maria das Graças de Jesus Araújo morreu 49 dias depois da operação, realizada em março, por causa de uma infecção, deixando dois filhos e cinco netos. O caso resultou numa sindicância aberta pela Secretaria estadual de Saúde e no afastamento de uma coordenadora e de uma funcionária da Central de Transplantes. Ter nomes semelhantes é o que teria feito com que duas mulheres fossem vítimas de um erro na fila de transplantes do estado.Maria das Graças de Jesus, de 60 anos, e Maria das Graças de Jesus Araújo não se conheciam, mas ambas eram portadoras de doença renal crônica e foram parar na mesma fila do transplante. Suas histórias se cruzaram em março deste ano, quando surgiu um doador.
Convocação por engano
Maria das Graças de Jesus Araújo teria sido convocada por engano para fazer o transplante. Na seleção feita pela Central de Transplantes do Rio, a pessoa mais indicada para receber o rim seria Maria das Graças de Jesus. "Não foi nem conferido direito os exames, nem os documentos, nem os meus, nem os da moça", disse Maria das Graças de Jesus. A sucessão de erros começou na Central de Transplantes, que não teria percebido que tinha confundido os nomes e se estendeu para dois conceituados hospitais do governo federal no Rio: o Hospital Geral de Bonsucesso, onde foram feitos os exames pré-operatórios, e o Hospital Clementino Fraga Filho, que realizou o transplante na Maria errada. A filha não se conforma. "Ela virou para mim e falou: ‘A minha vitória chegou. Ela foi, mas não voltou", lamenta Luciene Cardoso de Araújo, filha da vítima.
Mulher não operada foi chamada para avaliação
A troca de nomes só foi descoberta quando Maria das Graças de Jesus - que deveria ter recebido o rim - foi chamada para uma avaliação de rotina. 'Olha, você já foi transplantada, eu quero que você compareça para ver se está ocorrendo tudo bem contigo'. Aí eu falei não fui eu que fui transplantada, não, mas eu posso ir aí", conta Maria. No último dia 20, a coordenadora e uma funcionária da Central de Transplantes foram afastadas. "A conclusão da sindicância foi que houve falha administrativa", explica Pedro Henrique Di Masi, corregedor da Secretaria estadual de Saúde.
Central diz não ter explicação para famílias
A Central de Transplantes do Estado diz não ter explicação para dar às famílias neste momento. "Não há explicação nesse momento. A única situação que a gente pode se pronunciar é que a gente está organizando a central para que isso não volte a acontecer", explica Hellen Miyamoto, coordenadora interina da Central de Transplantes do Estado."Vamos enviar a documentação para a câmara técnica do Sistema Nacional de Transplantes para que eles analisem o caso e verifiquem se o erro influenciou na morte da paciente ou não", diz Pedro Henrique Di Masi.
Empregada doméstica já perdeu 11kg
Os rins da Maria que deveria ter recebido o transplante já não funcionam direito há quatro anos. De lá para cá, a empregada doméstica já perdeu 11 quilos e as forças para trabalhar. Para fazer as sessões de hemodiálise, precisa ainda caminhar seis quilômetros. Isso por que o transporte oferecido pela prefeitura de Itaboraí, cidade onde mora, na região metropolitana do Rio, não chega até a porta de casa. "Podia já estar transplantada, recuperando. Agora o que eu vou fazer? Só esperar Deus colocar outro no meu caminho", disse Maria das Graças de Jesus.
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