O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (10), em sua primeira entrevista exclusiva a portais de Internet, que o governo pode cortar gastos caso a crise financeira internacional se torne mais grave e exija esse tipo de medida. O presidente voltou a descartar adotar um pacote para enfrentar as conseqüências da crise.“Meu papel é passar serenidade para a sociedade brasileira. Falar a verdade absoluta ao povo brasileiro. Na medida em que essa crise chegar ao Brasil e tiver implicação na diminuição dos investimentos ou o governo for obrigado a diminuir os investimentos, com a mesma serenidade que estou dizendo que o Brasil está num momento bom, eu vou dizer: companheiros, amigos e amigas, a situação está se agravando e nós vamos ter que fazer isso, fazer isso e fazer aquilo. E anunciar as medidas”, disse.O presidente reclamou das pessoas que criticam sua serenidade em relação a crise e comparou sua posição a de uma visita a um paciente no hospital. “Tem gente que fala: mas o presidente está muito otimista, não está vendo a crise. Ora, meu Deus do céu. Eu sou o tipo de gente que, quando vai visitar alguém no hospital, não fico contando para ele quantas pessoas já morreram daquela doença. Eu fico contando para ele daquelas pessoas que tiveram a doença e se curaram. Ou eu fico falando de outra coisa para não falar da doença. Porque tem gente que vai no hospital visitar um coitado que está quase na fase terminal e começa: ah, ontem morreram três com essa mesma doença, ontem morreram quatro. Eu não sou esse tipo de gente”, argumentou.
Pacote
Ele voltou a negar que criará algum pacote para enfrentar a crise financeira internacional. “Tenho evitado trabalhar com pacote. Tenho dito ao Guido [Mantega, ministro da Fazenda] e ao [Henrique] Meirelles [presidente do Banco Central] que, pacote atrás de pacote, este país já quebrou a cara muitas vezes. Então, eu prefiro ir tomando as medidas pontuais, quando for necessário. Não é porque o médico fala que você tem que tomar 20 injeções que você toma todas de uma vez. Aí você vai se curar melhor do que tomar todas de uma vez. Comigo não tem pacote. Comigo será medida a medida, quando for necessário tomar medidas”, afirmou Lula.
Programas Sociais
Lula voltou a dizer que não haverá restrições orçamentárias nos programas sociais do governo. Segundo ele, essas políticas custam barato e ajudam a acabar com a fome das pessoas. “E os programas sociais vão continuar. Acho que a elevação e as conquistas sociais têm demonstrado que é capaz acabar com a fome. Todos os países do mundo podem fazer isso. Custa barato, muito barato e é muito eficaz. Ou seja, pouco dinheiro na mão de muita gente significa socializar as coisas nesse país. O Bolsa Família e os programas de investimento em educação, a saúde na escola, todos esses programas vão acontecer. O Pró-Jovem. Nós não iremos tirar um centavo desse dinheiro”, garantiu.
Natal extraordinário
Lula disse que continua acreditando que os brasileiros terão um Natal muito bom. “Eu continuo otimista de que a gente vai ter Natal extraordinário no Brasil. Até porque o Brasil, embora esteja vivo e participando da economia global... A crise não chega no mesmo tamanho a todos os países do mundo. No Brasil, nós não temos ainda nenhum grande projeto que sofreu qualquer arranhão." Lula comparou a economia brasileira a uma pessoa imunizada por uma vacina. “A verdade é que o Brasil está mais preparado. É como se nós tivéssemos tomado uma vacina contra uma doença e ela está demorando para chegar ao Brasil. E, se chegar, talvez chegue numa proporção muito menor que está nos Estados Unidos, onde é o epicentro da crise”, comentou.
"É preciso que a gente dê às crises a dimensão que elas têm. A crise americana é profundamente forte, mas o Brasil está profundamente preparado. Essa é a diferença básica e, por isso, nós vamos continuar incentivando [o crescimento]", completou. Ele admitiu, porém, que, se houver uma recessão grande nos Estados Unidos e ela se espalhar pela Europa e a China, o Brasil não ficará imune. “Obviamente que todos os paises irão sofrer. Agora eu estou convencido de que o Brasil sofrerá menos do que qualquer outro país a crise surgida nos Estados Unidos."
Contas públicas
Na avaliação do presidente, as contas públicas brasileiras estão bem e não precisam de ajustes. Ele voltou a dizer também que o sistema financeiro brasileiro não está envolvido com o mercado de sub-prime (de clientes com alto risco de inadimplência). “O sistema financeiro está sólido, as finanças públicas brasileiras estão sólidas, a política fiscal do governo está muito sóbria e serena, as reservas nossas nos dão tranqüilidade. E até agora não há sinal de que a economia brasileira esteja envolvida no sub-prime”, salientou.
Liquidez
Lula disse também que o problema no Brasil é de liquidez. Segundo ele, o governo fará o possível para resolver isso. Ele disse ainda que se bancos brasileiros estiverem envolvidos com o mercado de sub-prime dos Estados Unidos isso vai aparecer. “Isso é como boletim de criança que quer esconder do pai. Não adianta, um dia aparece. Então, é melhor que as pessoas contem logo para que se tome posição. Até agora não temos informação sobre isso no Brasil. Nosso problema hoje é de liquidez e nós queremos ajudar. Sobretudo em se tratando de ajudar os exportadores brasileiros”, afirmou o presidente. Segundo ele, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, têm conversado sistematicamente com os banqueiros do país para avaliar a situação. Até agora, segundo ele, não há informações sobre um risco maior. “Nós tomamos como primeira medida diminuir o compulsório para que os bancos grandes pudessem comprar as carteiras dos bancos menores. O que nós fomos informados depois é que havia uma pressão muito grande dos bancos grandes sobre os pequenos. Ou seja, é aquele negócio, as pessoas querem levar vantagem em tudo. Dá sinais de crise no mundo e ao invés de ter um mínimo de solidariedade cada um quer meter a mão e ganhar o máximo possível. Então o que nos fizemos, não vamos permitir que os bancos pequenos fiquem reféns dos bancos grandes. Isso vai ser muito importante porque os bancos pequenos vão ter garantia e provando a necessidade o BC fará o redesconto”, explicou o presidente.
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