sábado, 23 de agosto de 2008
projeto pode criar 'lei seca do cigarro'
A "lei seca dos cigarros", um projeto que proíbe o motorista de dirigir fumando, está em tramitação na Câmara dos Deputados. Apesar das críticas que acompanham a idéia, para o autor da proposta, deputado Dr. Talmir (PV-SP), o momento atual de grande repercussão em torno da queda de acidentes provocada pela lei seca torna propícia a aprovação do projeto que proíbe o cigarro para quem está ao volante."Quando o projeto da lei seca foi aprovado na Câmara, nem nós acreditávamos que iria dar tão certo. O mesmo pode acontecer com a lei que proíbe o cigarro", disse.O deputado, que também é médico, explica que a proibição iria reduzir o número de acidentes porque, segundo ele, o motorista que fuma inevitavelmente acaba se desconcentrando porque sempre precisa procurar o isqueiro para acender o cigarro e ainda bater as cinzas que muitas vezes voam e queimam o estofado do veiculo."Muitos acidentes já foram provocados por causa disso. O fumante se desconcentra o coloca a vida dele e de outras pessoas em risco", explica.Além disso, ele ressalta o aspecto ambiental da medida, já que, de acordo com o parlamentar, quase ninguém apaga o cigarro e deixa a ponta dentro do carro para depois jogá-la no lixo. "O motorista fumante provoca boa parte das queimadas de beira de estrada em período de seca e mesmo que isso não aconteça, uma bituca leva anos para se decompor."O deputado explica que, como a atual legislação obriga o motorista a dirigir com as duas mãos no volante, o projeto apresentado foi em caráter conclusivo, ou seja, não precisa ser votado no Plenário da Casa para virar lei.Ele foi protocolado na Mesa Diretora e vai passar por três comissões (de Transporte, Seguridade Social e Justiça e Cidadania). A idéia é que depois disso o código de trânsito seja mais claro e estipule a punição específica para o cigarro.Mas no decorrer de toda a tramitação, o projeto deverá ser alvo de críticas de diversos setores, conforme prevê o próprio autor da proposta. "Certamente, a Câmara ficará lotada de lobistas da indústria de cigarros, mas pretendo combatê-los para aprovar a matéria", afirma ele.Entre as pessoas ouvidas pela reportagem, as opiniões estão divididas. "A idéia é absurda, chega a ser ridícula. Não dá nem pra imaginar um guarda me multando por causa de um cigarro", critica o estudante Marcelo Cordeiro, que é fumante.Já o publicitário Marcelo Bressan apóia a idéia. "Uma vez estava dirigindo ao lado de um senhor que fumava quando bateu um vento e a brasa do cigarro caiu no colo dele", diz.O especialista em trânsito Paulo Cézar Marques, professor de engenharia da Universidade de Brasília, demonstra preocupação com o projeto de lei. "Como o código de trânsito já proíbe que se dirija com uma mão só, meu medo é que fiquemos obrigados a especificar tudo, tipo: não pode fumar, não pode comer, etc", pondera.De acordo com ele, o ideal seria o governo primeiro bancar uma campanha explicando os riscos em torno de se dirigir fumando para depois começar a multar aqueles que insistirem em fumar dirigindo. Ao ser questionado sobre como seria chamada a lei entre a sociedade, o professor diz em tom de brincadeira: "seria a lei seca do cigarro ou a lei anti-fumaça".
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