Nova Jerusalém, a 80 quilômetros de Umuarama, um dia já foi
o que pode se chamar de grande. Chegou a ter 3 mil moradores, cinema, posto de
combustível, restaurantes e pelo menos sete serrarias, que juntas geravam
empregos para centenas de pessoas.
O que era para ser uma cidade promissora acabou vivendo o
ocaso. Hoje restam apenas ruínas de um tempo promissor, em que começaram a ser
escritas histórias como a do empresário Sidney Oliveira, dono da bem-sucedida
Ultrafarma, na capital paulista.
Era década de 70. Pessoas andavam apressadas. Caminhões
faziam fila para abastecer e chegava a faltar combustível. A noite era intensa.
As ‘mulheres de vida fácil’ que atendiam na boate não davam conta de tantos
clientes. As notas de cruzeiros saíam pelas janelas.
A madeira vai ficando escassa e a cultura predominante na
região, o café, sofre a derrocada de 1975, com a maior geada da história no
Paraná. O tiro de misericórdia veio quando Nova Jerusalém foi excluída do mapa
do asfalto.
Da população fervilhante restam somente 8 famílias, no
máximo 30 pessoas. Gente como o funcionário público Delfreu Manoel dos Santos,
o Freu, morador do lugarejo há 47 anos. Ele lembra com saudade dos tempos de
ouro. “Vi a cidade crescer e acabar. A gente fica chateado mas acaba se acostumando”,
diz.
Freu faz uma pausa e volta no tempo: “Isso aqui era um
agito. O cinema chegava a ter quatro sessões num único domingo. Muita gente
querendo ver os filmes”.
O traçado de cidade ainda resiste à ação do tempo. Há postes
por toda parte. Ruas e esquinas ainda são visíveis, porém intransitáveis. E não
levam a lugar algum.
A igreja desabou e foi construída uma outra, menor. Mesmo
assim, só há missas uma vez por mês. O padre vem de Alto Paraíso (antiga Vila
Alta), a 12 quilômetros.
Freu é dono do único comércio. O estabelecimento fica mais
fechado que aberto. Quando os clientes precisam de alguma coisa batem palma na
casa do proprietário.
Uma das memórias de Freu é a do antigo vizinho, o morador
mais ilustre do lugar, o empresário Sidney Oliveira, que se transformou no
principal garoto propaganda da própria marca. A primeira farmácia de Oliveira
foi em Nova Jerusalém. No local onde vendia remédios só resta a tampa de uma
fossa.
“O Sidney chegou aqui com muita dificuldade. Pegava dinheiro
emprestado. Mas sempre pagava certinho. Era uma boa pessoa. Na época também
fazia muito favor pro pessoal”.
Darly Alves
Outro personagem famoso do lugar é o fazendeiro Darly Alves,
condenado em 1988 pela morte do líder seringueiro Chico Mendes, em Xapuri, no
Acre. O crime ganhou manchetes no mundo inteiro por causa da luta pela
preservação da floresta amazônica.
Darly também foi condenado em 1996, em Umuarama, pela morte
do corretor Acir Urizzi, que seria um de seus maiores desafetos, entre os
muitos que tinha. Passou anos cumprindo a pena acumulada no presídio da Papuda,
em Brasília. Sempre se disse vítima de uma grande injustiça.
Voltando aos dias atuais, Freu se diz contente com a vida
que leva no seu "pedaço de paraíso". “Pra mim esse lugar ainda é
muito bom. Aqui é seguro e dá pra dormir de janela aberta nas noites mais
quentes. A assistência na saúde também é boa. O médico vem direto”.
A pracinha não tem gente. Além das plantas, a única vida que
frequenta o logradouro, tão bem cuidado por Freu, é um cavalo branco que
aproveita a grama.
O sol vai embora. Os pássaros celebram a noite que chega. De
repente, um silêncio absurdo. Três lâmpadas se acedem. É a vida que segue em
Nova Jerusalém.
Todos os créditos ao site O Bem Dito/Leonardo Revesso
(http://www.obemdito.com.br/noticias-umuarama/a-cidade-na-regiao-de-umuarama-que-desapareceu-engolida-pelo/9953/)